terça-feira, 15 de junho de 2010

As Ruas de Coral Gables (Conclusão)

A intenção do empreendedor que adquiriu e loteou a imensa área que hoje constitui a cidade de Coral Gables, ao sul de Miami, era batizar suas ruas, praças e avenidas com nomes de localidades da Espanha, como Santander, Malaga, Granada e Toledo, entre tantas outras. Todavia, na falta de um bom atlas ou, quem sabe, influenciado por palpites de auxiliares que queriam puxar a brasa para suas sardinhas, é possível encontrar artérias com denominações de cidades e regiões italianas, como Palermo, Venetia, Milan (associada, hoje, ao super-craque Ronaldinho Gaúcho), etc. Todavia, o que chama a atenção nessa homenagem mais do que justa à Itália foi a escolha do nome de um Imperador Romano para batizar uma de suas ruas mais sofisticadas, que abriga uma série de mansões circundadas por imensos e belos jardins. Na falta, também, de um bom livro de história e a inexistência da Internet à época da criação da cidade, por volta de 1920, ao invés de homenagear os fundadores de Roma, os gêmeos Rômulo e Remo ou um de seus destacados Imperadores, como Cesar ou Augusto, o nome escolhido não poderia ter sido mais exótico: Calígula, um alucinado que além de se comprazer em matar pessoas com requintes de crueldade chegou ao cúmulo de organizar uma grande festa para celebrar seu casamento com...um cavalo! Uma outra rua homenageia Anastácia, único membro dos Romanoff que sobreviveu ao fuzilamento que dizimou sua família quando os bolcheviques tomaram o poder na Rússia. O que o nome da filha do Tzar teria a ver com a Espanha? Mas o que chamou mais minha atenção e fez levantar a suspeita de que deveria ter um brasileiro na equipe encarregada de escolher os nomes das vias públicas de Coral Gables é existência de uma pequena praça chamada Mariola. Isso mesmo, mariola, aquele docinho em tabletes embrulhado em papel celofane que fez - e acredito que ainda faça - a alegria de muitas crianças. Eu, até hoje, não resisto a uma mariola. Só não me perguntem a relação que, teoricamente, deveria existir entre essa tradicional guloseima brasileira com a Espanha e suas localidades. O patrício que convenceu o empresário de que Mariola era o nome de uma localidade da Península Ibérica deve ter dado boas risadas quando passou a contemplar o nome da popular iguaria estampado na placa (na realidade, uma espécie de gelo baiano, marca registrada das ruas de Coral Gables) afixada ao solo da simpática pracinha. Eu, pelo menos, esboço um sorriso cada vez que passo pela Praça Mariola a caminho da Ludlam Elementary School, onde estuda o Noah, meu neto, associando-me, em pensamento, ao espírito (certamente de porco) do autor da façanha. Já pedi à minha filha Ana, mãe do Noah, que tire umas fotos dessa e de outras placas de ruas de Coral Gables que ostentam nomes estranhos para ilustrar o Maritaca. Assim que ela fizer, prometo que coloco as imagens no Blog. Nelson Menda

3 comentários:

  1. Quero conhecer a praça Mariola!
    E a rua Calígula!
    Mande as fotos!!!!!

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  2. Nao por acaso conheco a rua Malaga, a Santander, a Granada, a Caligula e por ai vai . Coral Gables lembra o Rio , e la mora a Ana Menda minha sobrinha e morou o Nelson , paisagem bem tropical, alias me sinto em casa em Miami. Ja Nova York onde estivemos ha pouco e a propria Sampa , cheia de vida e programas . O Maine e bucolico, farol , praia ( gelada e c/ vento) , areia , arvores , Hartford, Connecticut e depressiva , cinza , bonita ,mas muito hemisferio norte pro meu gosto .
    E vem Little Rock onde moramos, cidade interiorana , ruido de bichos na noite , muito sol , cidade alegre , verde , sem muita pinta de grandes programas, mas acolhedora, e ja basta
    Susi

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  3. À procura das belas porcelanas que me alegram o espírito e descansam os olhos, encontro o comentário final sobre as ruas de Coral Gables. Não deixei de sorrir sobre a interpretação toponímica, sobretudo da Plaza de Mariola, e sua relação com o docinho brasileiro, aliás bom demais. Acho que só um gourmet, se lembraria de tal!
    Aqui fica a minha achega.
    Conheci Coral Gables durante um congresso de engenharia costeira, em que a conferência inaugural foi feita pelo Capitão Mariola William Sanchez, do US Corp of Eng. Army, que magistralmente relacionou a morfologia pantanosa da baixa Flórida, com o nascimento do aglomerado de Coral Gables, desde a última metade do século dezanove, por entre pântanos, afloramentos de coral e canais de maré, no arrabalde meridional de Miami, onde se foram fixando espanhóis, italianos e, por 1920, hispano-americanos provenientes de Cleveland e Las Vegas. A forte ligação às máfias, calabreza, e posteriormente cubana e russa, estão patentes nos nomes dos eixos viários, e em topónimos regionais. Assim, Calígula (cognome do 3º imperador romano Caius Germanicus)não homenageia o pérfido imperador, mas um padrinho da máfia calabreza que posteriormente integrou a Cosa Nostra. E a tal Anastasia, efectivamente a Romanoff, que deu o nome a Anatasia avenue, honra o lugar onde se reunia a máfia russa, quase no canto com a Colombo Boulevard, perto do famoso hotel Biltmore, onde Al Capone se hospedou, entre milionários e famosos.
    Ainda de referir, que entre os membros da comissão executiva do congresso, figurava Mariola Pytlikova, da Universidade de Miami!
    Em Espanha, Mariolas é o nome de uma serra da extremidade oriental da Cadeia Bética (sierra de Mariolas, entre Alicante e Valência).
    Mariolas são, também, amontoados de pedras, em forma de torre com cerca de 1m de altura, que os viajantes e pastores constroem nos caminhos das montanhas, para assinalar o trajecto dos rebanhos (serras da Galiza, Marão e Gerês, e Cadeia Bética).
    Mas Mariolas também são, malandros bem dispostos, que, supostamente sem maldade, encaram a vida com ligeireza e alegria. Porém, o diminuitivo Mariolinhas, em alumas regiões de Portugal, pode conter um juízo depreciativo, de feminalidade, relacionado com a etimologia da palavra neutra, que é Maria/Mario, resultante da latinização da palavra hebraica Miriam.
    Finalmente, deixo aqui a dúvida, sobre as Mariolas que mais me agradam. Aquelas barrinhas deliciosas, de doce de banana e melaço, porque se chamam assim?
    Maria Eugénia
    24 de Junho do ano da graça de 2010, às 2:46, em Lisboa

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